En route to Palawan, Philippines – Part II

“Hello MamSir..”

Estão a ver o cu de Judas? Nada a ver. Langogan é uma vilazinha remota no litoral de Palawan a duas horas de autocarro da capital, Puerto Princesa. Quando saí do transporte colectivo com a Maro, uma das minhas companheiras de viagem, senti-me um alien: dezenas de olhos exerceram uma pressão turístico/cultural para tentar perceber que seres éramos. Disse-lhes que éramos todos do mesmo planeta através do disparo aleatório de sorrisos e saudações, enquanto o seu olhar intrigado “scanava” o nosso tom de pele, olhos e cabelo, que contrastavam com os traços morenos e rasgados da fisionomia Filipina.

Assomei ao portão de cana, cujo letreiro indicava a entrada – Mangrove Resort. Pensei estar dentro do cenário telenoveleiro que fez as delícias da minha infância e aprumou para sempre o meu sotaque sertanejo: a telenovela Pantanal. Além de toda a envolvente selvagicamente verde, os simpáticos bungalows eram uma versão mais “modesto/luxuosa” da cabana de Juma Marruá. Só faltou ter visto uma Filipina virar onça, mas isso já era de mais para um dia só, ô xentii..!

Pantanal

A cozinha era uma cabanita de aspecto mais frágil que a casota de palha dos 3 animaizinhos suínos. Tudo ali era cozinhado num fogão a lenha.Mangrove Resort - Kitchen

Mangrove Resort - Kitchen1964432_10152298249491081_2044013309_n

Galinhas, gatos e cães partilhavam o mesmo espaço de recreio em harmonia sócio/animal, sem mostras de apetite ou de bullying para com a classe aviária, ou quaisquer rivalidades hierárquicas. Havia um jardim imenso e um pequeno deck de acesso ao rio que, em ambas as margens, abundava em pinceladas verdejantes, numa tela clorifílica de Monet.

Mangrove Resort

Só o rio suspirava, só os pássaros cantavam e uma canoa na margem convidava-me a descer o rio. “Depois do rio o que é que vem?” – já perguntava a Pocahontas, essa indígena louca por laurear a pevide ao vento, que preferiu a virgindade pantanalisíaca da sua terriola ao amor e umas assoalhadas londrinas prometidas por um bife marinheiro baleado. Depois do chamamento à natureza que vi em Palawan e nos dias que correm, não a condeno.

Ali, juntámo-nos à Sofia, que havia chegado no dia anterior e já tinha feito as honras ao local. Fizemos também as honras ao seu “guarda-roupa mochileiro” quando ela sugeriu a cedência temporária das suas vestes para nos desenrascar naqueles dias. Um bem haja!

River

Engel Bird Down the River Margem

“Dinner is ready mamsiiirrr”. Adoro esta referência formal e simultânea de géneros que os Filipinos usam. Seja um “Sir” ou uma “Madame” cumprimentam duplamente desta forma: “Goodevening mamsirrrr!!”, “Hello mamsiiir”, “How are you mamsiiiirr?” Quando inquiri a Mae sobre este curioso facto, ela explicou que o adaptaram durante a era “Yankee” nas Filipinas, que começou em 1898, altura em que terminou o domínio de “nuestros hermanos” naquele país. Os dois géneros são usados conjuntamente porque lhes facilita a vida, evitando repetições quando abordam um casal, poupando diálogo. Também ajuda a evitar situações embaraçosas na determinação do género alheio, dada a crescente adesão ao fenómeno “ladyboy” nas Filipinas. Começaram também os conceituados “beauty pagens” para lésbicas, por outras palavras concursos para eleger a “Miss Lesbiana”. Vi um destes programas com uma trupe de Filipinas amorosas que trabalha no meu posto habitual para o abastecimento de cafeína no Dubai. Garanto aos mais cépticos que, apesar de todas as senhoras serem portadoras do sexo reprodutor feminino, é mesmo difícil identificá-las como tal. O concurso chama-se “That´s my Tomboy” e deixo em baixo um “best of” do mesmo – esqueçam lá as metamorfoses ambulantes do “MamSir” Castelo Branco. Aliás, atentos ao minuto 0:51.. vêm alguns traços familiares relativamente ao espécime apresentador do meio que segura o microfone..?

 

Fazia tempo que não fazia bolos alimentares tão saborosos. Desde o guisado de porco, à sopa de papaya com gengibre e cebolinho; peixe agridoce ou com molho pesto caseiro e legumes da horta a acompanhar. A sobremesa foi quase sempre fruta, com a introdução de um novo fruto às minhas pupilas gustativas – a Maçã Estrela. A sua pele robusta não permite que se coma à dentada como uma maçã normal. De cor roxa no interior, tem uma estrela visível ao centro quando se corta ao meio. É muito deliciosa e sumarenta, rica em fibras e minerais e as suas folhas ajudam no tratamento da diabetes.

Photo by Maria Bonifácio Lopes
Papaya Soup with Ginger and Spring Onions
Photo by Maria Bonifácio Lopes
Sweet and Sour Fish with Organic Spinach
by Maria Bonifácio Lopes
Homemade Pesto with Organic Oregano and Cream!
Photo by Maria Bonifácio Lopes
Homemade Pinacoladas with Fresh Coconut!
Photo by Maria Bonifácio Lopes
Star Apple

No entanto, não me apanham a comer Balot, uma famosa delicatessen Filipina ou Tamilock, a especialidade de Palawan. Balot é um ovo de pato, que em gestação quase completa é fervido para posterior deglutição. Ou seja, quando se parte a casca, o “brinde kinder” é um bébé aviário pronto a nascer que, “tecnicotragicamente”, nunca vai ver a luz do dia e vai ser unicamente confortado pelas velosidades da parede estomacal humana, quando já não tiver sentidos que lhe façam jus ao termo vida. É vendido como “streetfood” por uns míseros pesos Filipinos. As fotos que se seguem não são da minha autoria e potenciam o ferimento de susceptibilidades. Cautela!!

Balot

54590c_0eda57fb5079e6709686ce2796df0d86.jpg_512

balot_by_queijokuki

Tamilock é uma larva que se encontra dentro dos troncos das àrvores de Mangue. É semelhante a uma ostra na textura, sendo apelidada de Ostra Tropical. Contudo, não tem um aspecto nada tropical e apetecível quando colocada com outros semelhantes num prato, naquilo que mais parece uns “noddles” lombriguentos e viscosos. Antes de os deitar pela goela abaixo, demolha-se primeiro num recepiente à parte que contém vinagre, calamensi, alho e pimentos. Mesmo assim, a coisa não melhora.

images-3 images-4

joj_5471-s

“Não há multibanco em toda a zona norte de Palawan. Também não se efectuam pagamentos com cartão de crédito (…)” – informou Claude, o manager de Mangrove Resort, num e-mail enviado após ter efetuado a reserva – “Este resort é ideal para explorar Palawan. Se procura praia, bronze, ar condicionado, festas e discotecas, esqueça-nos. Compras? Não existem lojas de roupa. Mangrove resort é para quem quer explorar a vertente natural e intocável de Palawan.” O “cu da Judas”, portanto. Mas, era mesmo isso que o meu corpo e alma pediam, um sítio para desconecção total do urbano, do industrial e do moderno. Desta forma, passeios de bicicleta, trekking, praias selvagens e cascatas no meio da floresta foram a terapia deste êxodo urbano asiático.

SAM_3211 SAM_3230SAM_3224SAM_3231SAM_3241SAM_3251SAM_3253SAM_3256SAM_3257SAM_3268SAM_3277SAM_3286SAM_3296SAM_3302SAM_3306SAM_3307SAM_3317SAM_3319SAM_3341SAM_3342SAM_3359SAM_3366SAM_3367_2SAM_3382SAM_3410SAM_3585photo

Houve outra coisa que fez as minhas delícias nestes dias, que não descreverei agora por motivos de criação de suspense e de promoção do bicho carpinteiro na curiosidade do caríssimo leitor.

Despeço-me assim com amizade e um simples “Até Jáááá..!” à Jorge Gabriel.

Al Hamdellah Habibis!

MERY AL BONIFACIO

“Hello MamSir..”

I will name Langogan as Never Land, as I thought I was never going to reach the place. From Palawan´s capital, Puerto Princesa, it´s a two hour and a half long and turbulent drive. The bus stops every two seconds and the under construction roads made it more turbulent than an aircraft crossing Jakarta. “Wow… I´m an alien, I´m a little alien…” – I recalled Sting´s lyrics the minute I stepped outside the bus. Locals were curiously scanning my western features, totally different from their black hair, caramel skin and torn eyes. I told them we were from the same planet by smiling randomly to everyone, everywhere I passed. As they smiled back, I knew they understood my efforts on breaking that “cultural ice” – “ ´cause smiling it´s something, everybody, everywhere does in the same language”.

Mangrove Resort. When I opened the gate I thought I was inside the TV series scenario that delighted my childhood years – a brazilian “telenovela” named Pantanal, filmed deep inside the Amazon forest. In this case, I was inside a forest too, however only the country changed.. the variety of untouched and wild green species looked quite the same I had seen years ago on the TV.

Pantanal

There were five bedrooms and two modest and comfy bungalows. The outdoor kitchen was a little shack, where all the food was cooked under a wooden burning stove.

Mangrove Resort - Kitchen

Mangrove Resort - Kitchen

1964432_10152298249491081_2044013309_n

Chickens, cats and dogs co-existed harmoniously on the same “socio-animal” space, with no signs of appetite or bullying towards the chickens or any kind of hierarchy rivalries between each other.

Mangrove Resort

There was an immense garden and a small deck which accessed the river, rich on a variety of green tons on both riversides, kinda like a “chlorophylic” canvas from Monet. The river whispered, the birds sang and a little canoe on the bank invited me to slide it down. “You can´t step in the same river twice, the water´s always changing, always flowing.. to be safe, we lose our chance of ever knowing.. What´s around the riverbend..? – sang Pocahontas, that crazy native who refused to abandon her virgin home-forest for some humble condo in London, promised by a shotted english sailor man. After the “nature-cal” l I saw in Palawan, I don´t blame her! Let her be on “LaLa” Land, painting with all the colors of the wind.

River

Engel Bird

Down the River

Margem

“Dinner is ready MamSir!!”. I must say I love this double formal gender reference that Philippinos use. Wether it´s a “Sir” or a “Madame”, they always double greet like this: “Hello MamSir!”, “Goodevening MamSir!”, “How are you MamSir??”. When I asked Mae about this curious cultural fact, she said it was something adopted from the “Yankee” Era on the Philippines, which started in 1988, when the Spanish left the country. Both genders are combined to make their lives easier, saving dialogue and avoiding repetitions when approaching a couple – “Hello MamSiiiir!”. It also helps to avoid embarrassing situations on the gender identification, once the “ladyboy” phenomenon has increased in the Philippines. Lesbian beauty pageants are the latest addiction on the Philippino TV – the Lesbian Beauty Pageant “That´s my Tomboy”. I saw this contest on my usual coffee spot in Dubai, along with a group of lovely Philippinos who work there. I must say I was quite impress with those lady´s efforts to look like men. If I didn´t knew they were carrying a vagina, I would never say they do so.

I haven´t done such tasty bolus in ages. From the pork stew, papaya and ginger soup with spring onions; sweet and sour fish or with homemade pesto and all organic vegetables as a side dish. Dessert was mainly fruits, introducing a new fruit to my taste buds – Star Apple. It has a tough skin, reason why it cannot be eaten by hand like a regular apple. It´s purple on the inside and has a star in the middle, seen when cut in half. It´s juicy and delicious, rich in fibers and minerals and it´s leaves help treating diabetes.

Photo by Maria Bonifácio Lopes
Papaya Soup with Ginger and Spring Onions
Photo by Maria Bonifácio Lopes
Sweet and Sour Fish with Organic Spinach
by Maria Bonifácio Lopes
Homemade pesto sauce with organic oregano and cream! Delicious!!
Photo by Maria Bonifácio Lopes
Homemade Pinacoladas with fresh coconut!
Photo by Maria Bonifácio Lopes
Star Apple

Although one should never say never, I risk to say there are two things from the Philippino cuisine I will NEVER put on my mouth. One of them is Balot, a very famous Philippino delicatessen and the other one is Tamilock, Palawan´s specialty. Balot is a duck egg almost in complete gestation, which is boiled to be swallowed. When the shell is broken, the “kinder surprise” it´s a little baby bird, deadly ready to be born. It´s sold as a streetfood for few Philippino pesos.

54590c_0eda57fb5079e6709686ce2796df0d86.jpg_512

balot_by_queijokuki

Balot

Tamilock is a worm which can be found inside Mangrove trees. It´s similar to a oyster in it´s texture, reason why is called “tropical oyster”. However, it doesn´t look tropical at all when putted together with other tamilocks, in a kind of viscous and chewy noodles. It is soaked first in a bowl with vinegar, calamansi, garlic and peppers, Still, it doesn´t look better.

images-3 images-4 joj_5471-s

“There´s no ATM on Palawan´s north area. No payments throughout credit card (…)” – said Claude, the Mangrove Resort manager, on a post-booking e-mail. “This resort is for those who want to explore Palawan. If you´re looking for beach, get tanned, air co, clubbing and discos, forget about us. Shopping? There are no fashion shops.” In Portugal, when something is quite far or in a vey remote area we say – “that´s in Judas Ass”. And so we were.. in “Judas Ass!”. However, that´s all my soul and body were in need of. A place to totally disconnect from the industrial and modern. Therefore biking, trekking, wild beaches and waterfalls were the main therapy of this countryside exodus.

SAM_3211 SAM_3224 SAM_3230 SAM_3231 SAM_3241 SAM_3251 SAM_3253 SAM_3256 SAM_3257 SAM_3268 SAM_3277 SAM_3286 SAM_3296 SAM_3302 SAM_3306 SAM_3307 SAM_3317 SAM_3319 SAM_3341 SAM_3342 SAM_3359 SAM_3366 SAM_3367_2 SAM_3382
SAM_3410 SAM_3585 photo

There was another thing that delighted my days, which I will not mention in this post for curiosity purposes.. you will have to wait for the next chapter habibis! Therefore..

Al Hamdellah Habibis!

MERY AL BONIFACIO

One thought on “En route to Palawan, Philippines – Part II

Leave a comment